Nestes dias de canícula nutro uma imensa simpatia por quem ousa passear-se por ruas desassossegadas, vergastadas por inclementes raios solares que derretem a paciência e ofuscam o discernimento.
Nem a revigorante sombra das árvores na proximidade dos frescos e cristalinos caudais de água acalmam o frenesim que se apodera da inclemência do corpo. E o olhar torna-se tão turvo que consegue discernir o mais obscuro desejo na longínqua miragem de um sorriso ocasional.
De um prometido estio invernal volvemos a um verão infernal onde o dia e a noite se misturam numa lava incandescente, e em que o desejo se forja na maldita vertigem da quimera equivocada do teu olhar ou do mero apetite de te ter na transpiração permanente do quotidiano, como se vulcão fosse ou loucura ou paixão ou somente amor.
Calor sei que persiste na loucura de todos os dias e na dor do teu olhar que resiste a este estupido encantamento de estranho entendimento que amar é alma em qualquer sentido, e, daí ser o estio momento eterno e louco para dar ao amor o mais belo caminho ou, talvez, o mais profundo descaminho, pois cada gotícula de água perdida será sempre ganha na loucura do destino ou do amor.