Ou Seguro manda no PS ou obedece ao PS. Ou se afirma como líder do partido ou será seu mero porta-voz.
Notícias vindas a público dão conta de que vários deputados do PS ligados a José Sócrates estão a fazer pressões para que o Partido Socialista vote contra o Orçamento do Estado. Aparentemente tudo isto é normal. Afinal, pressões, ameaças e chantagens são o pão nosso de cada dia dentro dos partidos. Na prática, porém, tudo isto é revelador de uma enorme falta de carácter político. De facto, estas pressões indiciam duas coisas: no país, o afloramento de uma política de terra queimada; dentro do PS, a vontade de afrontar a nova liderança. Em qualquer dos casos, um exercício de mesquinhez política.
O Orçamento para 2012 é o corolário directo do acordo de ajuda externa que Portugal celebrou com a UE e o FMI. Este, por sua vez, foi negociado pelo governo anterior, em estado de necessidade, porque Sócrates deixou o país no limiar da bancarrota. O governo actual tem, pois, de resolver um problema que herdou do PS e não um problema que ele próprio tenha gerado. Neste quadro, o mínimo de decência que se exigiria do PS é que desse o seu contributo para ajudar a vencer a encruzilhada em que nos lançou. Por outras palavras, que viabilizasse um orçamento cuja causa principal está no seu desgoverno passado. Se, apesar de tudo isto, a parte do PS que nos levou ao charco ainda teima no voto contra, uma única conclusão se impõe tirar – estes homens fazem o mal e a caramunha, não têm um mínimo de respeito pela coerência e praticam a política do quanto pior melhor. O país, esse, só conta para a retórica.
No plano da vida interna do PS, este comportamento não é mais edificante. O que os socráticos estão a fazer é desafiar a autoridade de António José Seguro, tentando condicioná-lo.
A partir de agora a opção é clara – ou Seguro manda no PS ou Seguro obedece ao PS. Ou se afirma em pleno líder do partido ou se coloca na posição de ser um seu mero porta-voz.
Alguém acabado de chegar à liderança não devia merecer este tipo de condicionamento. Mas, às vezes, há males que vêm por bem. Um momento destes pode constituir-se numa importante oportunidade. Veremos se António José Seguro a sabe aproveitar. Sobretudo para mostrar que é diferente. Na coerência, no carácter e no sentido de Estado.
Por:Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD