Um dos fatores que mais contribuiu para a erosão da autoridade dos professores foi a imposição pelas diversas estruturas da administração escolar do caráter excecional das retenções.
Na última década, essa imposição foi assimilada à escala do microcosmos escolar de forma a que os professores que reprovam alunos passaram a ser vistos como profissionais falhados. Os pais encaram-nos assim. Mas também os diretores, os inspetores e até os colegas.
A naturalização do direito ao sucesso é um rolo compressor que afastou o conceito de mérito da cultura escolar e da cultura parental. Pais, em aliança com os diretores das escolas, passaram a apontar a dedo, estigmatizando e, por vezes, perseguindo, os professores mais exigentes, aqueles que não se deixaram vencer pelo grande rolo compressor do direito ao sucesso escolar a qualquer preço.
Os professores passaram a usar um double speaking sobre o assunto: nos conselhos de turma e nas atas fazem uso da retórica do direito ao sucesso escolar a qualquer preço. Na sala de professores, nas caixas de comentários dos blogues e na vida privada mantêm a noção de que a retenção é não só admissível como vantajosa em determinados casos.
A tese de mestrado de Vítor Sil, Alunos em Situação de Insucesso Escolar (Instituto Piaget), centrada num estudo empírico sobre as representações e as perceções dos professores do ensino básico sobre o insucesso escolar, concluiu:
A opinião significativa dos professores vai no sentido de que a retenção dos alunos deverá deixar de ter caráter excecional, devendo o aluno transitar para o ano seguinte quando apresenta um "domínio de competências" do ano em que se encontra, desenvolvendo assim uma aprendizagem por etapas e por competências".
Ramiro Marques